O homem abriu os braços
[Teresa Rita Lopes]
como se fosse voar
O homem abriu os braços
Como se fosse abraçar
alguém chegado de longe
O homem abriu os braços
os braços em corpo inteiro
em ângulos rectos gritados
aos quatro cantos do espaço
aos quatro cantos do tempo
Num breve súbito instante
o vento fez dos seus braços
velas soltas desgarradas
na vertigem de partir
pásaro de asas abertas
medindo forças com tudo
no momento de cair
vertical breve na terra
com uma bala no corpo
A bala soube o caminho
o homem abriu os braços
e recortou por instantes
a dimensão do seu corpo
no ar em branco da tarde
seu pequeno corpo tosco
desfraldado pela morte
Foi tão breve foi tão breve
que o ar em branco da tarde
dessa silhueta esquiva
mal aprendeu o desenho
Mal aprendeu a bandeira
súbita frágil papoila
trémula tonta de inútil
incerta no ar parado
da tarde lenta de mais
Foi tão breve Ah! foi tão breve
que mal ficou o impulso
desse punhado de sangue
de repente arremessado
ao rosto branco da tarde
Ah! parado rosto da tarde
perfeito perfil de mármore!
escrito por Carlos M. E. Lopes
Curso de Angular Esencial
Há 2 dias
1 comentário(s). Ler/reagir:
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