Para não esquecer...

ILUSTRAÇÕES... DE UM OUTRO SENTIR * 11




EIS-ME

Eis-me 
Tendo-me despido de todos os meus mantos 
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses 
Para ficar sozinha ante o silêncio 
Ante o silêncio e o esplendor da tua face 
Mas tu és de todos os ausentes o ausente 
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca 
O meu coração desce as escadas do tempo 
                        [em que não moras 
E o teu encontro 
São planícies e planícies de silêncio  
Escura é a noite 
Escura e transparente 
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco 
E eu não habito os jardins do teu silêncio 
Porque tu és de todos os ausentes o ausente 
[Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto]

foto, de ai.valhamedeus; escolha do poema, de Ana Paula Menezes.

0 comentário(s). Ler/reagir: