Depois do 25 de abril, houve a necessidade de “esclarecer” o Povo.
Santo Estêvão não fugiu à regra. Montada a Comissão Administrativa na Câmara Municipal, eis que havia necessidade de ir às aldeias “auscultar as populações” e proceder ao “esclarecimento do povo”. Em Tavira, havia a Comissão Administrativa dirigida por Zeca Santos, melhor dizendo, José António Santos, solicitador e antifascista, indicado pelo MDP/CDE. Homem culto, sabedor e boa pessoa.
Um dia, foi a Santo Estêvão, à minha terra. Aí foi confrontado com as necessidades. O Fernando Brito, o homem que me ensinou a conduzir, amigo do meu pai, indicou uma das necessidades da Aldeia: um urinol. Dizia o meu amigo Fernando que os homens saíam das tabernas (e em Santo Estêvão eram quatro) e, invariavelmente, se dirigiam à parede da escola. E, aí, o cheiro a “mijo” era intolerável. Eis pois a grande ambição da minha terra. Sendo de somenos, era importante. O Fernando tinha razão. Aí, o Zeca Santos, puxando da sua experiência, respondeu "Oh, Fernando. Na Luz de Tavira (uns cretinos mais a sul) fizemos um urinol. E sabe o que se passa? As pessoas continuam a mijar na parede, cá fora.” Aí o Fernando teve uma saída de mestre “pois façam o urinol e uma parede. Quem quiser, mija na parede. Eu vou mijar ao urinol”.
O urinol foi feito, uns trinta anos depois.
escrito por Carlos M. E. Lopes
MEMÓRIAS SOLTAS * V. urinol
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