Estou a jogar à sueca na praia.
Eu e mais dois freaks.
Às vezes vou mijar por causa da cerveja.
Sinto-me mal. Podia sentir-me pior.
Há sempre um barco com pescador a esperar
pela solidão
enquanto nós sorrimos.
Às vezes penso que já fui campeão de dados do Algarve
(em, creio, 1973)
Dói-me não estar contigo, mas o que me dói
mais é não estar comigo quando não estou contigo.
Um alemão atirou-me uma batata, agora sei que cozida,
à cabeça.
Quantas tendas na minha cabeça.
Dói-me (ainda) o não te poder beijar.
Compreendes o que é não te poder acariciar?
(com certeza não…)
Enrolo um cigarro sem saber. Um cão
acariciou-me os pés. Adoro-te e é terrível,
é difícil o coração sentir-se em liberdade,
por isso sinto vontade de chorar de mansinho.
Sim, de mansinho porque não gosto de esperar
conselhos (talvez carícias) dos outros.
Espera!, a luz do Sol está a corromper o Mar.
Vês os teus olhos a correr por entre as dunas?
Não? Para mim é sempre triste sonhar os pesadelos dos
outros. Mas para quê espremer
cebolas nos olhos? Não basta o voar das gaivotas
cabisbaixas?
Quero estar contigo sempre e os desejos
são sempre pássaros de cabeças mergulhadas
no mar.
Levanto-me ao som de três espingardas, três
espingardas sem balas. O planeta (que é o meu)
parece morrer, as galinhas parecem rejeitar crocodilos
rejeitados que aceitam a rejeição
como se de amor se tratasse.
Para a semana vou (envol) ver-te. Até lá pensa
em tudo o que é a nossa capacidade
de gostar um do outro.
Um beijinho (talvez sem sentido) do eu.
[Cardeira, Vítor Gil. Tecidos, temas originais, 2019, pp. 53-54]
escrito por Carlos M. E. Lopes
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