Esta parece ser a política, a meta, o desejo, a ideia-mestra de muitos governos actuais. Sempre houve uma certa dorzinha contra «esta gente». Que o digam Platão e Sócrates
[que não eram socretinos]
para citar só dois dos que durante séculos «passaram o Niagara em bicicleta» e «comeram as passas do algarve» ou «o pão que o diabo amassou».
Em Porto Rico esta moda careca da posmodernidade também esquentou o cérebro de alguns políticos. Há um par de anos, uns brilhantes deputados decidiram aprovar uma lei que finalmente permitia a sindicalização dos empregados públicos. Como bons patrões e políticos socretinos, legislaram que tais sindicatos não teriam direito à greve. Vá lá o leitor saber como é que alguém pode aceitar uma coisa tão estúpida como esta!
As coisas foram correndo até que a
Federação dos Professores[depois de dois anos de negociação do novo Convénio Colectivo que o governo torpedeou constantemente]
decidiu pedir um voto de greve aos seus sócios. Foi aprovado quase por unanimidade. «Caiu o carmo e a trindade». O governo gritou que era uma blasfémia e pediu
[exigiu]
a descertificação do sindicato por ter incitado à greve. Os juristas «puseram o grito no céu»: Como é que se pode penalizar uma intenção? Um delito só o é quando se comete, não quando se anuncia ou defende.
Mas o governo... zás.: fez desaparecer o sindicato da face legalista da terra. Mas teve um pequeno problema: não conseguiu eliminar os seus 44.000 sócios.
Entre idas aos tribunais e tentativas de retomar as negociações, a Federação dos Professores decidiu mesmo avançar com a greve
[esse monstro ilegal]
no dia 21 de Fevereiro. Durante estes 7 dias de greve o sistema de educação está «congelado» em todo o país. Entre a militância dos grevistas e a repressão policial, assistimos a uma verdadeira guerra de palavras nos meios de comunicação social. A Federação reivindicando uma contundente vitória porque paralisou o sistema; o governo aceitando a paralisação mas atribuindo o êxito aos alunos, não aos professores
[esta não lembraria nem ao próprio Sócrates pê-esse].
O governo afirma que 70% dos professores assistem diariamente aos seus lugares de trabalho, mas só recebem 30% dos alunos. Esses professores que não estão em greve, afirma o governo, picam o cartão e mandam os alunos para casa. E acusa o sindicato de estar a meter os grevistas nas escolas para coarctar o direito dos estudantes ao ensino
[esta também não lembraria ao referido Sócrates].
Neste sentido o governo tem razão. Há professores em greve em ambos os lados dos portões. Mas nesta greve há algo ainda mais notável: a participação das comissões de pais. Todos reconhecem que o sindicato acertou ao usar a táctica de colocar o acento nos pais e alunos. Sendo uma greve ilegal, os professores que não trabalhem não só não recebem o salário mas podem ser despedidos com justa causa.
Esta táctica tem o governo à beira de um ataque de nervos. Todos os dias surgem novas ameaças aos professores, mas uma coisa é certa: se não há alunos... como exigir aos professores que trabalhem?
Neste momento –sétimo dia de greve- há um impasse tipo nó-cego: o governo nega-se a retomar as negociações porque a Federação não existe e já não representa os seus sócios. A Federação diz que não termina a greve se não lhe devolvem a certificação e sem uma garantia de que se aprovará o Convénio num tempo razoável.
Aqui fica a minha total solidariedade com os professores de Portugal e Porto Rico.
escrito por
José Alberto, Porto Rico
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